sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Uma viagem desafiadora


Não é de hoje que o death metal sueco é referência para os entusiastas do gênero. Ao começo da década de 90, nomes como Entombed e Unleashed formaram a linha de frente da cena metálica da Suécia e assombraram o mundo com uma sonoridade toda original cujo aspecto mais notável era o timbre denso das guitarras. Tempos depois foi injetada certa dose de melodia ao massacre auditivo, como pode ser visto nos trabalhos do Arch Enemy e do At The Gates, por exemplo. Mas nada tão fora dos padrões suecos, visto que por aquelas bandas também há o Opeth, que nunca se assumiu completamente death e vem cada vez mais se afastando do gênero.

Tendo uma instituição como essa a sua volta, é comum que grupos mais recentes do país nórdico sigam as fórmulas dos predecessores. E não foi diferente com o Morbus Chron. Fundada em 2007 na capital Estocolmo, a banda mostrou no seu debut de 2011 que o Entombed continuava fazendo a cabeça dos metalheads locais. Está tudo ali: os riffs sujos, as letras repugnantes, as passagens cadenciadas. Apenas a última faixa de "Sleepers In The Rift" difere um pouco das outras pelos momentos arrastados e atmosféricos. Mas o tempo passou e transformou um grupo nada mais que mediano num verdadeiro monstro. 

A guinada na carreira do jovem quarteto veio quando eles assinaram com a renomada Century Media. "A Saunter Through The Shroud", o primeiro EP na nova gravadora, já denuncia a busca por novos ares. A sonoridade do registro é muito mais equilibrada e estruturada e serviu de aperitivo para um dos álbuns mais memoráveis do ano: o espetacular "Sweven".

Não há forma mais eficaz de esterilizar uma manifestação artística que a rotulando. E aí está o maior trunfo do novo disco do Morbus Chron, lançado em fevereiro: são tantas nuances distintas que fica difícil rotular. Esses caras transcenderam as fronteiras do death metal e conceberam algo infinitamente mais interessante e digno de atenção. É metal, mas resumir "Sweven" apenas com esse termo é uma injustiça tremenda.

Os primeiros momentos do registro já mostram o porquê. Berceuse é um instrumental suave e sombrio ao mesmo tempo, recheado com uma psicodelia que faz toda a diferença. E, sem indicação sequer, somos transportados para a próxima faixa, Chains, onde o clima sombrio persiste e a quantidade de bons riffs aumenta consideravelmente. Fica claro que o instrumental em si é muito mais destacado em comparação aos vocais rasgados, impressão constante ao longo dos 53 minutos. 

A partir daí a viagem ganha contornos cada vez mais incríveis. Há a contemporaneidade em equilíbrio com a tradição na destruidora Towards a dark sky, as passagens quase doom metal na alucinante Aurora in the offing, o belíssimo solo de guitarra de Ripening life, o clima épico da absurda The perennial link, enfim. As dez músicas são igualmente destacáveis e não podem ser dissociadas umas das outras visto que no próprio "Sweven" elas são interligadas por meio de curtas passagens instrumentais. Só na melódica Terminus essa verdadeira jornada se encerra, em fade out, deixando no ar o que virá em seguida.

E é inevitável não criar expectativas sobre o próximo passo do Morbus Chron. Por ora, "Sweven" se conserva no topo, arrebatador e desafiador em sua atmosfera peculiar. Resta esperar por uma nova obra desses suecos muitíssimo promissores; e que essa obra também seja desafiadora.

Ouça a obra de arte aqui.