Depois
de mais de uma década sem lançar álbuns de estúdio, o Blur se sai muitíssimo
bem numa mescla entre experimentalismo e sua sonoridade clássica dos anos 90.
The
Magic Whip é um dos grandes álbuns desse ano. Sem dúvida, não poderíamos deixar
que 2015 passasse em branco sem ao menos comentar sobre esse grande lançamento
de um dos grupos do Britpop mais bem-sucedidos. Mas, o caminho até esse lançamento foi muito longo e cheio de desvios.
Após o lançamento
de Think Tank, em 2003, o Blur – que
já estava desfalcado pelo guitarrista original, Graham Coxon – se separou. Em
2009, a banda se reuniu de novo para ser a headliner de uma das noites do britanicamente
tradicional Glastonbury Festival – agora novamente com sua formação original,
com Coxon retornando como guitarrista à banda. Desde então, o quarteto de Essex
não se separou novamente, mas apenas vinha lançando algumas músicas inéditas (através
de singles normalmente), discos ao vivo, coletâneas e fazendo shows mundo afora. Teríamos
que esperar mais alguns anos após o retorno da banda para termos o gostinho
fresco de um álbum novo de estúdio.
Em
2013, depois do cancelamento do Tokyo Rocks Music Festival, no Japão, a banda
se viu com alguns dias extras em Hong Kong e, como forma de se distrair,
começaram a gravar novo material. Apesar do vocalista/letrista do Blur, Damon
Albarn ter afirmado em Julho de 2014 de que o material trabalhado em Hong Kong
seria “um daqueles discos que nunca seriam lançados”, Coxon mais Dave Rowntree
e Alex James (baterista e baixista originais do Blur, respectivamente), junto
do produtor Stephen Street (produtor dos discos clássicos do Blur dos anos 90,
como Parklife, Great Escape e Modern Life is Rubbish), começaram a moldar o que
viria ser The Magic Whip no final de 2014. Com os instrumentais prontos, Coxon
apresentou as musicas reformadas à Albarn, que voltou a Hong Kong em Dezembro
para ter inspiração para escrever as letras. Em Janeiro de 2015, os vocais
estavam prontos e, em Fevereiro, a masterização também foi concluída.
Em
Abril de 2015, chegava às lojas físicas e online The Magic Whip, com uma capa exoticamente elegante, bela e simples, que homenageia a cidade que serviu de apoio para a concepção do album, Hong Kong.
O material musical do disco, se comparado a capa, também não deixa a desejar.
Do começo ao fim, o disco é feito de acertos, ou seja, 12 faixas equivalentes a
12 acertos. Primeiramente, porque o disco é completo, misturando o
experimentalismo instrumental de 13 e
Think Tank à genialidade pop da era Britpop de Parklife. Exemplos disso são a curiosa
“Ice Cream Man”, a belíssima “New World Towers” e a jazzística “Ghost Ship”,
cujo um dos versos dá nome ao álbum. Em segundo lugar, a grandeza do disco se
reflete também nos seus hits, os quais tem uma sonoridade tão peculiar do Blur dos
anos 90 que poderiam estar em qualquer disco da era Britpop: a poderosa “Go
Out”, cujo refrão pegajoso “to the lo-o-o-o-cal” gruda na cabeça facilmente, é
um claro exemplo do resgate da sonoridade do britpop clássico do Blur; a
primeira faixa do disco, “Lonesome Street”, que abre o album com um apelo pop
genialmente construído sobre uma base instrumental sólida, sem “firulas”, com
guitarra, baixo e bateria fazendo o simples e completo simultaneamente,
relembra faixas memoráveis de Parklife como “Tracy Jacks” e “London Loves”. Todavia, o maior apelo pop do album fica
por conta de “Ong Ong”, um pop de arena, cujo refrão “I wanna be with you” será
facilmente cantado por milhares de pessoas ao mesmo tempo nos shows do Blur.
Essas três ultimas músicas citadas, inclusive, são os maiores acertos de The Magic Whip , sendo assim, os pontos
altos do disco, unindo qualidade
musical e poética a qualidade comercial.
O resto do disco também não é material
descartável, e sim um deleite aos apreciadores da banda e também àqueles que
estão sendo iniciados ao som do grupo inglês de Essex. A volta do Blur ao
estúdio tem que ser muito comemorada devido à qualidade e integridade do
material lançado. A NME certamente fez muito bem em colocar The Magic Whip em 15° nos melhores
álbuns de 2015, afinal, esse foi realmente um dos melhores – talvez até o
melhor – lançamento de 2015.