terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Franz Ferdinand: uma saudação de boas vindas dançante do indie rock que dominaria os anos 2000

Influenciados pelo movimento pós-punk, Franz Ferdinand (2004) misturou riffs a lá Joy Division e Gang of Four a batidas dançantes, criando uma espécie de dance-punk e se tornando discografia essencial dos anos 2000 



Desde a primeira música até a última, é bem nítido que o Franz Ferdinand estreou com um álbum muito influenciado no pós-punk de bandas como Joy Division e Gang of Four. Os riffs de guitarra, do inicio ao fim, lembram muito aqueles já consagrados por essas bandas, o que dá uma atmosfera bem pós-punk ao disco, soando como uma espécie de “pós-punk revival” nos anos 2000. No entanto, o Franz Ferdinand, em sua estréia, alia esse gosto por Joy Division e Gang of Four a um apreço por funk e (até) disco music, criando uma textura dançante com riffs simples, densos e explosivos ao mesmo tempo.
            Assim, Franz Ferdinand, o álbum homônimo de estréia, é um peça interessante do indie rock dos anos 2000 e com certeza - junto com o Is This It do Strokes - um dos discos mais emblemáticos dessa geração indie dos anos 2000 que perdura até hoje com força e através também de outros representantes de peso - como o bem sucedido Arctic Monkeys , o simpático The Killers e o pós-britpop Kaiser Chiefs.
            Puxado pelo sucesso estrondoso da música “Take me out” e de seu vídeo, inspirado em obras dadaístas e em propaganda soviética, o disco era (e ainda é) muito mais do que esse grande hit que talvez seja o maior da banda. Sem dúvida, o apelo pop e dançante dela é o mais forte do album, mas não é o único. “The Dark of the Matineé” é igualmente genial e brilhante ao misturar a delicadeza dos versos iniciais – “take your white finger/ slide your nail under/ The top and bottom buttons of my blazer” – a uma introdução explosiva  e a um refrão contagiante e dançante – “Find me and follow me /Through corridors, refectories ...” - criando um verdadeiro “dance-punk” com o groovie de bateria misturado ao peso minimalístico do riff principal das guitarras. “Tell Her Tonight” é  bem dancante, além de ser um triunfo pop muito potente com um riff funky e uma letra muito bem-humorada.  A desesperada “Auf Achse” e a esperta “40” são também uma mostra do “dance-punk” do disco de estréia do Franz Ferdinand, sempre misturando a simplicidade das guitarras a baixo e bateria que nos fazem dançar inconscientemente. “Cheating on You” é um pouco menos groovie do que as anteriores, mas é uma prova da influência que as bandas pós-punks exercem sobre a banda escocesa, sua sonoridade e seu riff de baixo dissonante são similares a das músicas do clássico Entertainment (1979) do Gang of Four.  
            Todavia, com certeza a música que mais demonstra a influencia do movimento pós-punk no som do Franz Ferdinand é um dos singles e uma das músicas de maior importância no álbum e na carreira dos escoceses, “This Fire”. O riff inicial poderia ter sido facilmente lançado por Andy Gill & Cia. nos anos 80 e a linha de baixo sempre nos tempos ímpares – no 1 e no 3 no compasso 4/4 – dá um ar experimental e pop ao mesmo tempo. Outro ponto decisivo para a importância dessa música é a urgência com  que Alex Kapranos interpreta a letra destrutiva da canção.
            Somado a tudo isso, há ainda as outras duas músicas mais pop do disco homônimo: “Darts of Pleasure” e “Jacqueline”. A primeira foi o single inicial lançado pela banda - sendo lançado até antes do próprio álbum - e é uma música bem irreverente com parte da letra cantada em alemão – “Ich heisse Superphantastisch/Ich trinke Schampus und Lachsfisch”. A segunda é importantíssima para a banda, visto que é uma daquelas canções que não podem faltar (e quase sempre está) no repertório ao vivo do Franz Ferdinand.

            Ainda que o álbum seguinte, o impressionante “You Could Have it so much Better”, fosse superior musicalmente ao disco de estréia ( e se tornaria o melhor disco da banda não sendo superado por nenhum outro ao meu ver), ele não teria a importância e a força pop e fácil de Franz Ferdinand. O disco de estréia do quarteto de Glasgow é uma saudação de boas vindas poderosíssima a era do indie rock, um retrato essencial pra quem quer entender e conhecer o movimento das bandas indies dos anos 2000.