Continuando...
O próximo passo foi recrutar um novo baixista, uma vez que o próprio Ginn assumira o baixo em "My War". Eles chegaram, então, à linda Kira Roessler que, indiscutivelmente, foi a melhor escolha para o posto. Seu estilo de tocar era ao mesmo tempo raivoso e sofisticado, tudo o que Ginn estava a procura. O ânimo era tão grande que, depois da entrada de Kira, a banda apresentaria seu período mais prolífico: foram três lançamentos só em 1984.
Da esquerda para a direita: Greg Ginn, Henry Rollins, Kira Roessler e Bill Stevenson
O álbum mais experimental que o Black Flag já lançou veio depois de "My War". "Family Man" possuía um lado apenas com Rollins e seus spoken-words, e um lado totalmente instrumental. Nem é preciso dizer que os fãs mais antigos não entenderam absolutamente nada, o que foi decisivo para que a obra só fosse apreciada muito tempo depois. Logo em seguida, vem o ótimo "Slip It In", uma continuação mais amadurecida do que eles vinham mostrando até então. As críticas foram muitas, os fãs mais ardorosos chegavam a agredir o frontman Rollins, mas o Black Flag seguia experimentando e ficando ainda mais pesado.
A fúria do público do Black Flag se dava não apenas por causa do direcionamento adotado por eles, mas também pela escassez de velhos clássicos nos setlists, fato comprovado pelo próprio Henry Rollins. Essa atitude se refletiu até mesmo na opinião de alguns críticos, que afirmaram que "Slip It In" cruzava a linha entre o punk e o metal. Mas, ao que tudo indica, isso não foi o bastante para eles, e, em 1985, todos são surpreendidos ainda mais com "Loose Nut", um álbum que pendia para o metal em vários momentos.
Um aspecto memorável de "Loose Nut" é sua produção, a primeira sem a mão de Spot. A polidez não deixa de ser estranha para os moldes da banda, que sempre apostou em um trabalho sujo e orgânico. E, apesar de não ter sido sucesso entre críticos e nem mesmo ser apreciado pela banda, não deixa de ser um bom disco. A queda no padrão de qualidade pode ser explicada pelos constantes conflitos internos, os quais permaneceriam até o fim do Black Flag, em 1986.
Mas, antes disso acontecer, é lançado o EP "The Process of Weeding Out", o auge do experimentalismo avant-garde de Greg Ginn. Rotular o disquinho não é uma tarefa muito fácil, mas eu diria que é algo entre o hardcore/sludge anterior e o free jazz. Diferentemente de "Family Man", não há participação de Henry Rollins, o que torna o álbum ainda mais difícil de digerir. No mínimo, interessante.
A saída de Roessler foi repentina, mas ajudou a conter as tensões por pelo menos um tempo. Stevenson também deixou de integrar o grupo, dando lugar a Anthony Martinez. Contudo, o Black Flag já estava dando os últimos passos para a derrocada. O excesso de turnês, os onipresentes confrontos internos e a dificuldade em manter um público - fato potencializado pela falta de um padrão sonoro - foram determinantes para que um ponto final fosse posto. O último trabalho de estúdio foi "In My Head", propositalmente semelhante a seu antecessor, numa tentativa quase desesperada de situar os fãs.
A última formação
O último show se deu em 27 de junho de 1986, em Detroit. Dois meses depois, o fundador Greg Ginn telefonou a Henry Rollins anunciando a saída de sua própria criação. E ficou claro que reformá-la estava fora de cogitação. Ainda haveria o EP "I Can See You", gravado em 1985 e lançado em 1989. Após isso, Ginn formaria o Gone e embarcaria em uma carreira solo. Henry Rollins permanece como a figura mais publicamente vista, atuando em filmes, lançando discos solo e com a Rollins Band, escrevendo livros e viajando o mundo com sua performance spoken word.
Recentemente, o nome Black Flag voltou à mídia com a formação do Flag, banda composta por Keith Morris, Dez Cadena, Chuck Dukowski, Bill Stevenson e Stephen Egerton (Descendents). Quase simultaneamente, Ginn anunciou a reforma de seu projeto, ao lado de Ron Reyes e do baterista Dave Klein. No dia 2 de agosto do presente ano, o guitarrista acusou os membros do Flag de infringimento de direitos autorais. O veredicto foi que o Flag poderia continuar usando o icônico logo, uma vez que os fãs poderiam diferenciar as duas bandas. Processos à parte, acredito que o Flag tenha mostrado o melhor serviço até agora.
É isso. Espero que tenham apreciado essa verdadeira viagem pelo mundo do Black Flag e do underground californiano, duas coisas que se confundem facilmente. Peço desculpas se o texto ficou excessivamente grande ou detalhado, é minha primeira tentativa nesse formato e espero melhorar com o tempo. Abraço!