segunda-feira, 4 de maio de 2015

Algumas palavras sobre Revolver, dos Beatles


Recentemente cedi a uma obrigação moral no meio dos aficionados musicais: ouvir todos os discos lançados pelos Beatles. Já passou da hora, confesso, mas estou me redimindo aos poucos e está sendo uma grata experiência, claro.

Comecei, obviamente, pelo começo. Os cinco primeiros álbuns dos Fab Four, aqueles que consolidaram os jovens como a mais nova febre na década de 1960. Eu, que sempre fiz careta à menção de “iê iê iê” e “Beatlemania”, fui surpreendido pela alta qualidade dos registros. Todos, em maior ou menor grau, são exemplos de música pop feita com qualidade e competência. Desde o debut Please Please Me até Help! fica latente o talento acima da média de John, Paul, George e Ringo.

Mas eu sabia que os Beatles se tornaram o que foram e o que são por causa do restante de sua discografia. E, no fim das contas, ouvir sobre as mesmas temáticas bobas estava ficando chato. Então, aportei em Rubber Soul já de sobreaviso e vi uma outra banda no horizonte. Uma banda aliando a absurda sensibilidade pop dos primeiros anos com algumas experimentações e um leque cada vez maior de pensamentos e influências. Os Beatles finalmente cresceram.

Depois de navegar por essas águas cristalinas durante algum tempo, era hora de ir para o porto seguinte. Revolver, 1966. O ano da última turnê do quarteto, pré-Summer of Love. Capa p&b com os quatro rostos desenhados à mão e diversas colagens ao redor. 14 faixas, como sempre, mas o detalhe de ter sido gravado com calma, assim como seu antecessor, sem a agenda lotada de antes.  

Terminada a viagem, declarei: uma obra-prima.

Revolver é tudo o que uma banda de rock’n’roll sessentista queria fazer, em termos de som, composição e produção. É pop rock perfeito, sem tirar nem pôr, impecavelmente tocado e gravado. E, acima de tudo, é... sutil.

A sutileza de Revolver foi o que me deixou mais boquiaberto. Até mesmo as faixas mais diretas – Taxman, She said she said, And your bird can sing... – são tocadas com cautela para que nada soe fora do lugar. Momentos como Eleanor Rigby, Love you to e Here, there and everywhere, então, são nada menos que sublimes. E os vocais tem uma grande parcela nisso.

Os vocais são o grande destaque do disco, especialmente na citada acima Here, there and everywhere e na lisérgica estação final Tomorrow never knows. A primeira é cantada por Paul e o atestado de que eu precisava para admitir de vez que ele era o melhor vocalista dos Beatles. Logo atrás, George, mostrando na mágica Love you to seu talento absurdo longe dos colegas de banda mais famosos, só com Ringo na percussão. E tocando cítara.

Ainda há a relaxada I’m only sleeping, a pérola psicodélica Yellow submarine, a ensolarada Good day sunshine, a pungente For no one, a linda I want to tell you e a festeira Got to get you into my life. Todas impecavelmente compostas, cantadas, tocadas, produzidas, enfim...

Todas em menos de 35 minutos. Menos é mais.

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