Influenciados
pelo movimento pós-punk, Franz Ferdinand (2004) misturou riffs a lá Joy
Division e Gang of Four a batidas dançantes, criando uma espécie de dance-punk
e se tornando discografia essencial dos anos 2000
Desde a primeira música até a última, é bem nítido que o Franz Ferdinand estreou com um álbum muito influenciado no pós-punk de bandas como Joy Division e Gang of Four. Os riffs de guitarra, do inicio ao fim, lembram muito aqueles já consagrados por essas bandas, o que dá uma atmosfera bem pós-punk ao disco, soando como uma espécie de “pós-punk revival” nos anos 2000. No entanto, o Franz Ferdinand, em sua estréia, alia esse gosto por Joy Division e Gang of Four a um apreço por funk e (até) disco music, criando uma textura dançante com riffs simples, densos e explosivos ao mesmo tempo.
Assim, Franz
Ferdinand, o álbum homônimo de estréia, é um peça interessante do indie rock
dos anos 2000 e com certeza - junto com o Is This It do Strokes - um dos discos
mais emblemáticos dessa geração indie dos anos 2000 que perdura até hoje com força
e através também de outros representantes de peso - como o bem sucedido Arctic
Monkeys , o simpático The Killers e o pós-britpop Kaiser Chiefs.
Puxado pelo sucesso estrondoso da música “Take me out” e
de seu vídeo, inspirado em obras dadaístas e em propaganda soviética, o disco
era (e ainda é) muito mais do que esse grande hit que talvez seja o maior da
banda. Sem dúvida, o apelo pop e dançante dela é o mais forte do album, mas não
é o único. “The Dark of the Matineé” é igualmente genial e brilhante ao misturar a
delicadeza dos versos iniciais – “take your white finger/ slide your nail
under/ The top and bottom buttons of my blazer” – a uma introdução
explosiva e a um refrão contagiante e dançante
– “Find me and follow me /Through corridors, refectories ...” - criando um
verdadeiro “dance-punk” com o groovie de bateria misturado ao peso
minimalístico do riff principal das guitarras. “Tell Her Tonight” é bem
dancante, além de ser um triunfo pop muito potente com um riff funky e uma
letra muito bem-humorada. A desesperada “Auf
Achse” e a esperta “40” são também uma mostra do “dance-punk” do disco de estréia
do Franz Ferdinand, sempre misturando a simplicidade das guitarras a baixo e bateria
que nos fazem dançar inconscientemente. “Cheating on You” é um pouco menos groovie
do que as anteriores, mas é uma prova da influência que as bandas pós-punks
exercem sobre a banda escocesa, sua sonoridade e seu riff de baixo dissonante são
similares a das músicas do clássico Entertainment (1979) do Gang of Four.
Todavia,
com certeza a música que mais demonstra a influencia do movimento pós-punk no
som do Franz Ferdinand é um dos singles e uma das músicas de maior importância no
álbum e na carreira dos escoceses, “This Fire”. O riff inicial poderia ter sido
facilmente lançado por Andy Gill & Cia. nos anos 80 e a linha de baixo
sempre nos tempos ímpares – no 1 e no 3 no compasso 4/4 – dá um ar experimental
e pop ao mesmo tempo. Outro ponto decisivo para a importância dessa música é a urgência
com que Alex Kapranos interpreta a letra
destrutiva da canção.
Somado a tudo isso, há ainda as outras duas músicas mais
pop do disco homônimo: “Darts of Pleasure” e “Jacqueline”. A primeira foi o
single inicial lançado pela banda - sendo lançado até antes do próprio álbum - e é
uma música bem irreverente com parte da letra cantada em alemão – “Ich
heisse Superphantastisch/Ich trinke Schampus und Lachsfisch”. A segunda é importantíssima
para a banda, visto que é uma daquelas canções que não podem faltar (e quase
sempre está) no repertório ao vivo do Franz Ferdinand.
Ainda que o álbum seguinte, o impressionante “You Could
Have it so much Better”, fosse superior musicalmente ao disco de estréia ( e se
tornaria o melhor disco da banda não sendo superado por nenhum outro ao meu
ver), ele não teria a importância e a força pop e fácil de Franz Ferdinand. O disco de estréia do quarteto de Glasgow é uma saudação
de boas vindas poderosíssima a era do indie rock, um retrato essencial pra quem quer entender
e conhecer o movimento das bandas indies dos anos 2000.
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