David Byrne. Ícone da cultura pop, antigo
líder do extinto Talking Heads, multi-instrumentista, radialista, pesquisador
musical, excêntrico, inquieto. Um artista, no sentido mais literal do
substantivo.
Annie Clark. Guitarrista de mão cheia,
originária do Texas, completamente avessa aos estereótipos reacionários do
estado sulista. Rosto relativamente novo, ela começou sua carreira sob o
pseudônimo de St. Vincent em 2007 e desde então se estabeleceu como um dos
nomes mais promissores do circuito alternativo. Uma artista, também.
Em 2009 os caminhos desses dois expoentes
se cruzaram e o que era pra ser uma única apresentação ao vivo evoluiu para uma
colaboração mais profunda. A partir daí, o veterano e a novata trocaram
composições o suficiente para encher um disco.
Love This Giant saiu em 2012 pela lendária
4AD e pela Todo Mundo, selo do próprio Byrne. A peculiar capa com os rostos
deformados da dupla nos encarando nasceu do conceito de A Bela e a Fera ao
contrário: David, a Fera, com uma covinha galante contrastando com os cabelos
brancos; Annie, a Bela, com uma protuberância bizarra em suas feições
delicadas. Nada inesperado em se tratando de duas pessoas fora do padrão.
Colaborações desse tipo precisam de algo a
mais para não se assemelharem demais ao trabalho solo dos envolvidos. No caso
de Love This Giant, isso foi prevenido com a adição de um time de metais à
parafernália tecnológica utilizada brilhantemente pelos dois. O resultado:
grooves tão deformados quanto as faces da capa.
Produzido por Clark e Byrne em conjunto com
o renomado John Congleton (Swans, Franz Ferdinad, Sigur Rós, entre outros), o
álbum destila uma deliciosa elegância em meio aos andamentos intrincados, em
grande parte por causa do altíssimo nível dos metais. São doze faixas esquisitas
e totalmente dançantes, reflexo da distinta sensibilidade pop de ambos.
Liricamente, Love This Giant aborda temas
como a modernidade gerando alienação, relacionamentos destrutivos, a força da
natureza e a fragilidade humana, todos comuns às obras de David e Annie. Nesse
aspecto, destaca-se a empolgante “I Should Watch TV” e sua crítica ao papel de
integração social atribuído quase em totalidade à mídia e a estéril
massificação resultante disso.
A dupla excursionou durante 2012 e 2013
fazendo shows recheados de coreografias robóticas e versões de clássicos do
Talking Heads e singles da St. Vincent. Depois cada um seguiu seu caminho
levando os frutos colhidos: David foi capaz de renovar sua relevância e Annie
absorveu novas influências para sua ascendente carreira. Vantajoso para eles e
para nós.

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