quarta-feira, 29 de julho de 2015

A redenção de Iggy


Depois da implosão dos Stooges em 1974, Iggy Pop era um legítimo “sem-futuro”. Os diversos vícios do frontman atingiam tal ápice que o transformaram numa figura folclórica decadente do submundo nova-iorquino. Diante desse quadro deplorável, Iggy se internou no instituto neuropsiquiátrico da Universidade da Califórnia e lá encontrou seu salvador: David Bowie.

Bowie foi um dos poucos a visitá-lo e apoiá-lo nesse período obscuro. Não é exagero dizer que, sem o superstar, Iggy dificilmente continuaria a carreira. A dupla retomou sua parceria se mudando para a porção oeste de Berlim em 1976. Na capital alemã, com a ajuda de Bowie e banda, Pop concebeu seus dois primeiros discos solo, aqueles que o redimiram dos excessos do passado e mostraram que ele ainda podia produzir algo de relevante.

O primeiro produto da estadia na Alemanha foi “The Idiot”. Por ter sido composto às vésperas das colaborações entre Bowie e Brian Eno – que originaram a Trilogia de Berlim –, o disco tem muito do que o inglês faria posteriormente: clima introspectivo e sintetizadores. Logo, o debut de Iggy é extremamente diferente da selvageria dos Stooges, soando frio, calculado, robótico. A influência que este exerceu em nomes como Depeche Mode e Nine Inch Nails é perceptível.

“Sister Midnight” e “China Girl” foram as escolhidas como single. A primeira é uma espécie de blues sem suingue com vocalizações graves, enquanto a segunda soa mais convencional devido à guitarra nervosa de Carlos Alomar e à interpretação inspirada de Pop. Um dos maiores méritos de “The Idiot”, inclusive, foi mostrar a versatilidade do vocalista fora da gritaria chapada dos Stooges. Isso fica ainda mais claro em “Nightclubbing”, que, junto de “Funtime”, parece a trilha sonora de uma pista de dança de uma boate obscura. Liricamente, merecem nota “Mass Production” (Though I try to die / You put me back on the line) e “Dum Dum Boys”, óbvia referência aos antigos companheiros de Iggy.  


Bastou “The Idiot” ser lançado e promovido para que Bowie e Pop voltassem ao estúdio. “Lust For Life” foi composto, gravado e mixado em oito dias, e isso teve reflexo no resultado final. Se por um lado o álbum é mais cru, mais rock’n’roll e, consequentemente, mais Iggy, por outro não é consistente como seu antecessor. Ainda assim tem seus momentos, como a faixa título e “The Passenger”, os dois maiores hits da carreira de Pop, e a divertida “Some Weird Sin”.



Os dois registros foram bem recebidos, especialmente “Lust For Life”, seu maior sucesso comercial. Mas a importância de ambos está no fato de terem sido a ressurreição de um dos maiores frontmen da história do rock’n’roll. É por causa deles que Iggy se manteve e se mantém respeitado e vivo, mesmo que nunca tenha gravado algo comparável à santíssima trindade dos Stooges. E nem precisa.

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